O livro Minha vida, minhas histórias de Gil Santos, como todos sabem, é uma autobiografia, que na minha opinião é uma carta aberta de quem necessitava colocar para fora algo que sempre teve vontade. De uma profissional dos serviços domésticos que precisava desabafar algumas tristezas da profissão e, até mesmo, denunciar a violência moral que muitas empregadas domésticas acabam sofrendo. Alguém que sempre deu os ouvidos para ouvir e não era ouvida em seu local de trabalho. Uma pessoa extremamente obstinada, capaz de se transformar, ao ponto de virar uma autora, e colocar sua voz em suas escritas, dando seu grito de liberdade através de palavras. Ao fazer a leitura, consegui imaginar as emoções de Gil Santos sendo colocadas para fora através das palavras.
É impressionante ver os detalhes da história que a autora entregou em seu livro, são memórias agradáveis e de fato genuínas de sua infância. As lembranças de seus pais são bonitas e tão honrosas, como de seus irmãos. Assim como por uma infelicidade do destino, e da maldade do ser humano, ter sofrido um abuso de um conhecido da época, com tão pouca idade. E tão nova, ainda em sua adolescência se viu obrigada a largar os estudos para ajudar no sustento de casa. Um início tocante. Algo para se refletir e levar em conta a história de uma mulher de fibra e garra.
Quando Gil Santos, no livro se refere ao seu trabalho, nota-se que estamos vendo alguém de suma responsabilidade e comprometimento. Algo nobre que também observei, mesmo que este início profissional tenha sido prematuro, barrando algumas questões como o prosseguimento dos estudos e momentos tão importantes em família como Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães em que precisou estar a serviço de outras famílias e não em comunhão com a sua própria família.
Seu trabalho lhe proporcionou momentos importantes como viagens a trabalho em que ela fez questão dizer que foram fascinantes, o aprendizado da língua do país em que ela trabalhava em viagens com seus patrões. De forma que houvesse um respeito com sua pessoa.
É notável a forma como Gil Santos aplica as exclamações em seu desabafo autobiográfico, o que para mim demonstra sua vontade de ter se expressado quando na verdade teve que entregar o silêncio para seus patrões, pessoas estas que passaram por sua vida e que machucaram-na. Palavras rudes, palavras más, sem reciprocidade ou compaixão quando ela fizera seu trabalho exaustivo muitas vezes.
A entrega de sua vida às ações da Igreja Batista como missionária na Baixada Fluminense e das Juntas Mundiais são destaques da benevolência da autora, algo que deve ser destacado por conta de tamanho poder de transformação que a decisão de Gil Santos em seguir a doutrina evangélica. Um passo que diz muito sobre sua personalidade que demonstrou bravura e o desejo de transformar a vida de jovens adolescentes e mulheres nos lugares que passou e ainda passa.
E é por este motivo, a vontade de transformar história de vidas, motivar as pessoas a partir de seu testemunho que Gil Santos conseguiu alcançar inúmeros êxitos. A escrita e a publicação de Minha vida, minhas histórias colocou ela em diversos lugares de fala como a XX Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, 20º Festa Literária Internacional de Paraty, matérias de jornais e entrevistas na rádio.
O poder transformador de sua esperança foi capaz de levá-la a lugares inimagináveis.
Gil Santos é uma vencedora e provou que trabalho honrado é trabalho feito com carinho, não importa qual trabalho seja.
Mesquita, RJ.
Marcus J. Trindade, 28 anos
Escritor, Editor e Bacharel em Letras.
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